A realização de moderadas atividades físicas (com duração de até 1h por 3-5 dias na semana) são essenciais para um estilo de vida saudável. No entanto, a alta intensidade do volume de treino diário dos atletas profissionais, cerca de 6 a 8 horas, podem aumentar a ventilação alveolar e diminuir os níveis do anticorpo IgA, tornando maior o risco de infecção viral no trato respiratório desses indivíduos.
Não é de hoje que a saúde respiratória do atleta é uma preocupação da medicina esportiva. Um estudo realizado por Nieman e colaboradores, em 1990, já relatavam um aumento de episódios virais nas vias aéreas inferiores em atletas de maratona, causando febre, tosse seca, mal-estar e dispneia como efeitos agudos na semana seguinte a competição.
Apesar de muitos acreditarem que os atletas podem ser assintomáticos ou apresentarem apenas uma “gripezinha”, o primeiro caso confirmado da doença na Europa foi em um homem de 38 anos que participava regularmente de eventos esportivos, como corridas e jogos de futebol, inclusive estava praticando esporte um dia antes de apresentar os primeiros sintomas. Após 4 dias, foi internado em unidade de terapia intensiva (UTI) por Síndrome Respiratória Aguda Grave, mostrando que nem mesmo os atletas estão livres dos desfechos mais graves da doença.
Inicialmente, para atender as diretrizes da Organização Mundial de Saúde no combate a pandemia da COVID-19, as competições esportivas seriam realizadas sem torcedores, evitando a transmissão por meio de contato próximo. No entanto, com a confirmação da COVID-19 em um jogador de basquete durante o campeonato nacional americano (NBA), os eventos esportivos nacionais e internacionais, incluindo as Olimpíadas de 2020, foram adiados/suspensos. Os atletas entraram em distanciamento social e muitos começaram a treinar em casa, para tentar manter o condicionamento físico. Porém, a falta da rotina de acompanhamento profissional e de treinamentos específicos do esporte são preocupantes e podem desfavorecer a aptidão física, o desempenho do atleta e consequentemente provocar lesões musculoesqueléticas no retorno pós-pandemia.
O afastamento das atividades esportivas está causando uma crise financeira no meio esportivo, colocando em risco a atividade profissional dos atletas. Inclusive, alguns clubes já reduziram o salário, conforme a realidade econômica enfrentada com a pandemia. O esporte faz parte do entretenimento da sociedade, porém por vezes os atletas são tratados como mercadorias, sem considerar suas limitações físicas e abalos psicológicos que qualquer outro ser humano pode sofrer.
As desigualdades sociais e de serviço a saúde podem desfavorecer os atletas a se prepararem para competições intensas. Ainda é difícil prever as consequências da pandemia na vida do atleta. Como o atleta irá se preparar em curto tempo e com alta intensidade para competições, sem sofrer lesões? Como está o psicológico e o preparo físico dos atletas?
É fundamental considerar o tempo de readaptação dos atletas utilizando programas de retorno ao esporte, já que o destreinamento pode afetar a aptidão física e mental, além de que muitos atletas podem ter ficado com sequelas da COVID-19. Em breve, nosso grupo apresentará resultados sobre o mapeamento da repercussão biopsicossocial da COVID-19 em atletas brasileiros. Aguardem!
Por:
Lucas Lopes (http://lattes.cnpq.br/1374931517117754)
Jamila Perini (http://lattes.cnpq.br/2210400333973948)
Para saber mais sobre o impacto da COVID-19 no meio esportivo acesse os artigos científicos na íntegra:
Para conhecimento e curiosidade, seguem os links dos artigos já publicados pelo grupo de pesquisa do LaPesF-UEZO em parceria com o INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), sobre lesões musculoesqueléticas em atletas e a influência de polimorfismos genéticos no desenvolvimento da tendinopatia.
Equipe UEZO:
Ana Carolina Leocadio de Souza
Camili Gomes Pereira
Jade Pires do Nascimento
Victor Soares Wainchtock
Lucas Lopes
Jamila Perini
Equipe INTO:
Letícia Aparecida Marincolo Domenis
Victor Rodrigues Amaral Cossich
Vitor Almeida Ribeiro de Miranda
Rodrigo Araújo Goes
João Alves Grangeiro Neto
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